Infelizmente, o significado do compartilhar de refeições está em grande parte perdido na comunidade cristã dos nossos dias. No Oriente Médio, compartilhar de uma refeição com alguém é uma garantia de paz, confiança, fraternidade e perdão: a mesa compartilhada representa a vida compartilhada. Para um judeu ortodoxo, dizer “gostaria de jantar com você” é uma metáfora que implica em “gostaria de iniciar uma amizade com você”. Até mesmo hoje, um judeu americano compartilhará sem problemas com você de um café com rosquinhas, mas estender um convite para jantar equivale a dizer: “Venha para meu mikdash me-at, o santuário em miniatura da mesa da minha sala de jantar, onde celebraremos a mais sagrada e bela experiência que a vida proporciona — a amizade”. Foi isso o que Zaqueu ouviu quando Jesus chamou-o a descer do sicômoro, e é por isso que as companhias com que Jesus compartilhava as suas refeições provocaram comentários hostis desde o primeiro momento do seu ministério.
Não escapou à atenção dos fariseus a intenção de Jesus de manter amizade com a ralé. Ele não estava apenas violando a lei, estava destruindo a própria estrutura da sociedade judaica. “Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador” (Lc 19:7). Mas Zaqueu, não tão preocupado com a respeitabilidade, transbordou de alegria.
“Seria impossível subestimar o impacto que essas refeições devem ter tido sobre os pobres e os pecadores. Aceitando-os como amigos e como iguais Jesus havia removido a vergonha, a humilhação e a culpa deles. Ao demonstrar que eles importavam para ele como pessoas, ele concedeu a eles um senso de dignidade e libertou-os do seu antigo cativeiro. O contato físico que ele deve ter tido com eles à mesa (Jo 1 3:25) e que ele obviamente nunca sonharia em condenar (Lc 7:38,39) deve tê-los feito sentirem-se limpos e respeitáveis. Além disso, porque Jesus era visto como um homem de Deus e como profeta, eles teriam interpretado o seu gesto de amizade como a aprovação de Deus sobre eles. Agora, eram aceitáveis diante de Deus. Sua pecaminosidade, ignorância e impureza haviam sido deixadas de lado e não eram mais levadas em conta contra eles”.
Através da comunhão à mesa Jesus ritualmente traduziu em ação a sua percepção do amor indiscriminado do Abba — um amor que leva seu Sol a erguer-se sobre tanto maus quanto bons, e sua chuva a cair sem distinção sobre honestos e desonestos (Mt 5:45). A inclusão de pecadores na comunidade da salvação, simbolizada na comunhão à mesa, é a expressão mais dramática do evangelho maltrapilha e do amor misericordioso do Deus redentor.
Shalom!!!
Fonte: O Evangelho Maltrapilho
Deixe um comentário